"Quis correr, mas as pernas não obedeciam, então deitou no piso gelado e se sentiu livre..."
O Sensato
Autor Fábrica de Chocolates
Aquele homem. Ele poderia ter sido tão afortunado, apaixonado e adorado. Por que não escolheu outro caminho? O rosto já não destaca seus olhos azuis, profundos como o oceano - que também não é mais azul - apenas amargura e sofrer.
Aquele homem. Ele poderia ter sido tão afortunado, apaixonado e adorado. Por que não escolheu outro caminho? O rosto já não destaca seus olhos azuis, profundos como o oceano - que também não é mais azul - apenas amargura e sofrer.
Orgulhoso... objeto de desejo de tantas. Porém, se perdeu por uma, aquela moça de fino trato e modos elegantes. Escreveu-lhe, cortejou-lhe e amou-lhe... e ela retribuía friamente à todos os seus sacrifícios.
Casaram-se, não tiveram filhos.
Continua...
Sua indiferença tomava proporções colossais a cada ano que passaram juntos. Não podia mais. Ela repudiava todas suas fantasias, sonhos e planos para um futuro unidos, ofendia-o todas as vezes que lhe dava vontade, se entregava a outros homens não tão virtuosos quanto ele. Condenada perdição!
Uma noite, despiu-se. Se olhou durante longas horas em frente ao espelho, estava muito mais cansado e sem ânimo do que imaginara. Cobriu apenas o rosto com um capuz de algodão de cor negra. Se dirigiu à sua mulher, que já não se admirava com mais uma loucura para conquistá-la. Deitaram-se, ambos estavam sonolentos. Se amaram. E caíram no sono, exaustos.
Uma noite, despiu-se. Se olhou durante longas horas em frente ao espelho, estava muito mais cansado e sem ânimo do que imaginara. Cobriu apenas o rosto com um capuz de algodão de cor negra. Se dirigiu à sua mulher, que já não se admirava com mais uma loucura para conquistá-la. Deitaram-se, ambos estavam sonolentos. Se amaram. E caíram no sono, exaustos.
Seguiram semanas assim, ele sempre de capuz, somente como capuz. A mulher já não se continha de vergonha e os raros amigos desapareceram. Ninguém sabia o porquê disso, nem ele mesmo. Por trás do pequeno pano que lhe cobria apenas a face, escondia um minúsculo sorriso.
Anos se passaram e ele foi abandonado. Foi acolhido por religiosos que o vestiram, mas ele se despia novamente. Perambulou ruas, cidades inteiras completamente nu, sem se importar com frio ou pudor.
Adoeceu... as chagas tomavam o corpo todo e ele foi obrigado a se cobrir. Mas sempre deixava descoberta o seu órgão sexual.
Encaminharam-no a um asilo. Não conversava, não se vestia.
Um dia, tirou o capuz. E riu... riu, gargalhou até perder o fôlego... Estava lindo, jovem e alegre novamente. Quis correr, mas as pernas não obedeciam, então deitou no piso gelado e se sentiu livre...